No século XIV, o Cairo testemunhou o domínio dos mamelucos, antigos soldados-escravos que se tornaram governantes do Egito após um golpe de estado em 1250. Esses soldados, originalmente trazidos do Cáucaso e da Ásia Central, formavam uma casta militar leal exclusivamente ao soberano islâmico – até decidirem tomar o poder para si mesmos, estabelecendo um sultanato que duraria até 1517.
Em meio a este cenário político, surgiu An-Nasir Hassan, que assumiu o trono do Egito em duas ocasiões. Inicialmente, foi proclamado sultão em 1347, quando tinha apenas 13 anos de idade. Posteriormente, retornou ao poder em 1356, quando tentou acabar com a autoridade dos príncipes e altos funcionários. Esta decisão provocou grande instabilidade, criando inimigos poderosos entre os comandantes militares.
Em 1356, o jovem sultão ordenou a construção de um monumental complexo religioso que se tornaria um dos mais importantes do mundo islâmico. Sua visão era extraordinária: criar não apenas uma mesquita, mas também uma madrassa (escola islâmica) que abrigasse simultaneamente as quatro correntes do pensamento sunita - Shafi'i, Maliki, Hanafi e Hanbali. Um projeto único e ambicioso para sua época.
O orçamento da construção era igualmente impressionante, chegando a 30.000 dirhams por dia, o que a tornou a mesquita mais dispendiosa do Cairo medieval. O sultão exigia que não houvesse um único dia sem trabalho, pressionando constantemente os operários.
Infelizmente, Hassan não viveria para ver sua grandiosa obra concluída. Existem duas versões sobre seu trágico fim. A primeira relata que durante a construção, um dos minaretes desabou, matando cerca de 300 fiéis. Este incidente foi interpretado como um mau presságio, alimentando rumores que culminaram no assassinato do sultão, apenas 33 dias após o colapso.
A segunda versão sugere que Hassan foi vítima de uma conspiração política. Ao colocar pessoas de sua confiança em cargos anteriormente ocupados por outros, criou muitos inimigos. Jalbugha al-Umari, comandante-chefe de seu exército e suposto aliado, teria executado o golpe final contra o sultão.
Apesar do desaparecimento de Hassan em 1361, a construção da mesquita continuou. Anos depois, o príncipe Bachir Al Gamdar finalizou as obras, deixando para a posteridade um dos mais extraordinários monumentos da arquitetura islâmica.
Ao entrar na mesquita do sultão hassan, sou imediatamente envolvido pela majestosa arquitetura mameluca que se destaca por suas proporções extraordinárias. Esta obra-prima arquitetônica ocupa uma área impressionante de cerca de 7.900 metros quadrados, com suas paredes se elevando a 35 metros de altura.
O complexo segue o plano cruciforme tradicional mameluco, com um enorme pátio central que mede aproximadamente 34 metros de comprimento e 32 metros de largura. Este pátio, banhado pelo sol, contém uma elegante fonte de abluções no centro, obra do príncipe Bashir Al Gamdar. Ao redor deste espaço aberto encontram-se quatro iwans (salas arqueadas sem colunas), cada um dedicado a uma das escolas de pensamento sunita: Hanafi, Maliki, Hanbali e Shafi'i.
O projeto original previa quatro imponentes minaretes, porém apenas três foram concluídos. O minarete mais alto se eleva a impressionantes 68 metros, destacando-se na paisagem do Cairo. Esta verticalidade não era apenas funcional, mas também simbolizava o poder e a grandeza do sultanato mameluco.
Dentro da mesquita, cada elemento decorativo reflete o refinamento da arte islâmica. As paredes e tetos são adornados com intrincados arabescos, designs geométricos e caligrafias. Na nave da Quibla, as paredes estão revestidas de mosaico colorido e decoradas com um friso de escritas do Alcorão. O mihrab (nicho de oração) é coberto com mosaicos coloridos e ladeado por quatro colunas de mármore polido com capitéis de madeira dourada.
Atrás do mihrab, há duas portas que levam ao mausoléu do sultão. Esta posição do mausoléu causou controvérsia, pois sua localização na direção da qibla (orientação para Meca) significava que os fiéis oravam na direção do corpo do sultão. Esta configuração incomum desafiou as convenções da arquitetura islâmica tradicional. O mausoléu, embora grandioso com sua impressionante cúpula de 21 metros quadrados, permaneceu vazio, pois o sultão Hassan foi assassinado antes da conclusão da obra.
Para tornar sua visita à mesquita do sultão hassan proveitosa, é fundamental conhecer alguns detalhes práticos antes de partir. Aqui estão as informações essenciais para planejar sua visita:
Horários de funcionamento e preços de entrada
A mesquita está aberta diariamente, entretanto há informações divergentes sobre o horário exato. Algumas fontes indicam funcionamento das 8h às 17h, enquanto outras mencionam das 9h às 17h. Quanto aos ingressos, os preços variam: há relatos de LE220 para adultos e LE110 para estudantes, ou ainda um bilhete combinado com a Mesquita Al Rifa'i por 5,20 euros para adultos e 2,60 euros para estudantes.
Como chegar: transporte e localização
Localizada no distrito histórico do Cairo, próxima à Cidadela de Saladino na região de Al Qalá, a forma mais conveniente de chegar é de táxi ou carro particular a partir do seu hotel. Muitas excursões à Cidadela incluem transporte de ida e volta. Não há estação de metrô nas proximidades, sendo a distância aproximada de 5 quilômetros.
Recomendações de vestimenta e etiqueta
Para homens, recomenda-se roupas abaixo dos joelhos. Todos devem remover os sapatos antes de entrar.
Acessibilidade para visitantes com mobilidade reduzida
Nos arredores da mesquita do sultão hassan, existem outras joias arquitetônicas e culturais que merecem sua atenção. Ao planejar seu roteiro, reserve tempo para conhecer estes tesouros que complementam perfeitamente sua visita.
Localizada exatamente ao lado da mesquita do sultão hassan, a Mesquita Al-Rifa'i (também conhecida como Mesquita Real) forma com ela um impressionante conjunto arquitetônico. Construída entre 1869 e 1912, esta estrutura retangular de mais de 1700 metros quadrados abriga os túmulos de diversos membros da família real egípcia, incluindo o Rei Farouk, o Rei Fuad I e a princesa Fadia. As duas mesquitas são normalmente visitadas em conjunto, com ingressos combinados custando 2,32 euros para adultos e 1,16 euros para estudantes.
A poucos minutos de caminhada, encontra-se a imponente Cidadela de Saladino, uma fortificação medieval construída no século XII. Esta estrutura, reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1976, oferece vistas espetaculares de todo o Cairo, permitindo até avistar as pirâmides de Gizé em dias claros. No interior da cidadela, você encontrará a Mesquita de Alabastro, o Palácio Gawhara e interessantes museus como o Militar e o da Polícia.
Para completar seu passeio, visite o Khan El Khalili, um dos mais antigos bazares do Oriente Médio, datando de 1382. Este mercado vibrante, com mais de 900 estandes, é famoso por seus trabalhos em cobre na área chamada "El Najaseen". Entre ruelas sinuosas, encontrará lâmpadas coloridas, joias, especiarias, perfumes e uma infinidade de artesanatos. A melhor hora para visitar é no final da tarde, quando a atmosfera se torna ainda mais encantadora.
Finalmente, o Museu de Arte Islâmica, localizado na fronteira entre o centro e o Cairo Antigo, abriga uma impressionante coleção de artefatos islâmicos. Uma visita a este museu proporciona um melhor entendimento da arte e cultura que influenciaram os monumentos que você acabou de conhecer.
A Mesquita do Sultão Hassan representa, sem dúvida, uma das experiências mais memoráveis para qualquer visitante no Cairo. Minha visita a este monumento mameluco me deixou profundamente impressionado não apenas com suas dimensões colossais, mas também com os detalhes requintados que adornam cada centímetro desta obra-prima arquitetônica.
Este tesouro histórico conta muito mais que a história de um sultão ambicioso – revela a grandeza da civilização islâmica medieval através de seus iwans imponentes, caligrafia meticulosa e proporções majestosas. A combinação entre beleza estética e função religiosa torna este local verdadeiramente único.
Portanto, recomendo fortemente reservar pelo menos duas horas para explorar completamente este monumento. Chegue cedo para evitar multidões e aproveite a luz natural que ilumina o pátio central e realça os detalhes dos mosaicos coloridos. Lembre-se de respeitar as normas de vestimenta e comportamento, demonstrando reverência por este espaço sagrado que continua ativo como local de oração.
Finalmente, aproveite sua visita para conhecer também os arredores. A proximidade com a Mesquita Al-Rifa'i, a Cidadela de Saladino e o bazar Khan El Khalili permite criar um roteiro completo pelo Cairo islâmico. Cada um destes locais complementa a experiência, oferecendo diferentes perspectivas sobre a rica herança cultural egípcia.
Minha jornada pela Mesquita do Sultão Hassan permanece como um dos pontos altos de minhas viagens pelo Egito. A grandiosidade arquitetônica, o significado histórico e a atmosfera contemplativa deste lugar certamente deixarão marcas duradouras também em sua memória.
A mesquita está aberta diariamente, mas há informações divergentes sobre o horário exato. Algumas fontes indicam funcionamento das 8h às 17h, enquanto outras mencionam das 9h às 17h. É recomendável verificar o horário atual antes da visita.
É importante vestir-se modestamente. Mulheres devem usar roupas que cubram braços e pernas, além de cobrir o cabelo com lenço ou hijab. Homens devem usar roupas abaixo dos joelhos. Todos os visitantes devem remover os sapatos antes de entrar na mesquita.
Os preços dos ingressos variam. Algumas fontes mencionam LE220 para adultos e LE110 para estudantes. Há também a opção de um bilhete combinado com a Mesquita Al Rifa'i por cerca de 5,20 euros para adultos e 2,60 euros para estudantes.